Dados do Trabalho
Título
Disjunção do Anel Mitral Associado a Prolapso da Valva Mitral e Síncope
Introdução
A disjunção do anel mitral (DAM) consiste no deslocamento superior do anel valvar em relação ao miocárdio ventricular esquerdo, com a inserção do folheto posterior da válvula mitral diretamente na parede atrial. A DAM pode ocorrer de modo isolado ou, mais frequentemente, associada ao prolapso da valva mitral (PVM). A apresentação clínica mais comum da DAM é a palpitação, seguida de pré-síncope, síncope e arritmia ventricular. A literatura evidencia que a DAM pode ser associada a um maior risco de arritmia ventricular maligna e morte súbita e, por isso, o diagnóstico e a estratificação de risco é fundamental para um melhor prognóstico. A extensão da DAM >8,5mm, velocidade sistólica anular do anel mitral >16m/s (sinal de Pickelhaube) e presença de realce tardio no músculo papilar são preditores de taquicardia ventricular.
Descrição do caso
Paciente, 26 anos, trabalhadora rural, previamente hígida. Apresentou parestesia de membros, palpitações, seguido de síncope com duração de 30 minutos. Desde então, queixa-se de palpitações, dispneia aos moderados esforços e dor precordial atípica. Exame eletrocardiográfico apresentou alteração inespecífica da repolarização ventricular em derivações da parede inferior. Ecocardiograma transesofágico revelou o diagnóstico de PVM clássico (Doença de Barlow), DAM de 11mm e onda S=18m/s ao doppler tissular do anel mitral. Detectada regurgitação mitral de grau moderado, aumento do volume das câmaras esquerdas, redução do strain de reservatório do átrio esquerdo e função sistólica biventricular normais em repouso. Paciente apresentou boa resposta ao tratamento clínico com betabloqueador.
Conclusões
O caso relatado apresenta PVM associado a DAM e marcadores de pior prognóstico, com risco de arritmia grave e morte súbita. Desse modo, na ocorrência de contrações ventriculares prematuras, estas devem ser tratadas clinicamente com uso de betabloqueadores. Em caso de fração de ejeção ≤35%, mesmo após terapia médica ideal, é indicado o uso de um aparelho cardioversor desfibrilador implantável (CDI), o qual também é indicado em pacientes com PVM e história de parada cardíaca súbita com fibrilação/taquicardia ventricular sem causas, e em pacientes que apresentam síncope inexplicável e arritmia ventricular de alto risco. Em casos mais graves, ablação e cirurgia valvar mitral podem ser consideradas, embora a revisão bibliográfica mostre que ainda não há dados consistentes acerca dos efeitos a longo prazo da intervenção cirúrgica.
Área
Cardiologia
Autores
Thaís Souza Gonzales, Marcus Vinicius Infante, Gabriele Ferreira da Silva, Ricardo Shinji Takahashi, Marcelo Salame